Uma Taça de histórias

Em meio a tantos jogadores, dirigentes e familiares que circulam pelo Vale da Hospitalidade durante a 10ª Taça Saudades, algumas histórias chamam a atenção, seja pelo fato de serem inusitadas, seja pelo fato de mostrarem perseverança através do futebol como uma arte – e possivelmente, um caminho para o sucesso.

Um dos casos que merece destaque, é a história do pessoal que compõe a delegação do clube J9 EC, do Pará. Percorrendo mais de 3.8 mil quilômetros, numa viagem de nada mais nada menos que 60 horas, a equipe do norte do Brasil sem dúvida emociona pela garra e dedicação não só dentro dos campos, mas principalmente fora dos gramados. A delegação que deslocou-se para Saudades é composta por 45 pessoas.

Conforme informações do auxiliar técnico João Ferreira, os jogadores tiveram que custear as despesas de viagem, para participar do treino. “Viemos da cidade de Castanhal, com muita dificuldade. Cada um dos nossos alunos pagaram em torno de R$ 1 mil de passagem. Mas sabemos que a Taça Saudades é hoje um berço do futebol no Brasil, e a gente veio aqui para tentar mostrar um pouco dos talentos da nossa equipe”, disse.

Visivelmente emocionado, João fala das dificuldades encontradas pelos paraenses aqui em Santa Catarina. “A nossa viagem, de três dias e três noites, é uma viagem muito difícil. Aqui, sentimos muito a questão do horário, pois a noite passa muito rápida e a gente não é acostumado com isso”, esclarece.

A saudade da família também é um fator que cala fundo no espírito não só dos jogadores, mas de toda a comissão que acompanha a equipe. “Está sendo muito difícil para os nossos jovens, eles estão sentindo muito a ausência dos pais. Tem alunos que, mesmo com os pais acompanhando, sentem a falta dos tios, da irmã, pois nossas famílias são muito apegadas”, relata João.

Em compensação, levar o futebol a sério, para os paraenses, pode ser um caminho para o sucesso. “Existe uma preparação com psicólogos, dentro do projeto, para poder realizar esse trabalho”, resume.

O mais inusitado é, talvez, o fato de pessoas do norte reclamarem do calor do sul do país. “Nós não tínhamos conhecimento nesse sentido. Aqui é um clima diferente, a ventilação é pouca, e nós estamos acostumados na temperatura alta, mas com ventilação”, diz João. Conforme o auxiliar, muitos atletas chegaram a passar mal em decorrência calor.

Para o próximo ano, o J9 EC pretende voltar, desta vez com as quatro categorias – haja vista que, nesta edição da Taça Saudades, a equipe participou no Sub-15 e Sub-17. “Pretendemos voltar com mais experiência. Vamos vir mais preparados em todos os sentidos, tanto no futebol quanto no psicológico. Queremos agradecer a toda a organização da Taça Saudades, a prefeitura e a todos os munícipes que nos acolheram muito bem, aqui a hospitalidade é muito boa. Vamos nos preparar cada vez mais e no próximo ano queremos ser pelo menos finalistas, se não campeões”, finaliza João.

Taça em duas línguas

Em meio a times de vários estados brasileiros, encontramos também, na 10ª Taça Saudades, equipes vindas do Uruguai e Paraguai. Entre esses atletas, familiares e dirigentes, encontramos José Alzir, um legítimo “brasiguaio”, que atua como gerente de futebol do CA 3 de Febrero do Paraguai.

A viagem dos paraguaios é bem mais curta que a dos paraenses: de Ciudad del Este, no Paraguai, até Saudades, são pouco mais de 400 quilômetros, em 8 horas de viagem. “Há dois anos estou no Paraguai desenvolvendo o gerenciamento do futebol de base. Essa é a segunda edição da Taça Saudades que participamos. Pretendemos participar na próxima edição, pois essa competição dá muita experiência aos nossos atletas, que  estão habituados a jogar num sistema paraguaio, diferente daqui do Brasil”, argumenta.

Conforme José, a Taça Saudades serve como uma escola, para as equipes do exterior aprenderem a jogar o futebol do jeito brasileiro. “Moramos num local de tríplice fronteira, então temos uma mistura da raça dos paraguaios, da força dos argentinos e da categoria dos brasileiros. Estamos fazendo essa mescla, para que o clube consiga revelar jogadores com talento, como já fez no passado”, frisou.

A comissão do CA 3 de Febrero é composta por 40 atletas e mais 11 pessoas, entre dirigentes, técnicos e familiares. “A competição tem uma boa organização. Fomos muito bem recebidos na cidade, a população é muito hospitaleira. É uma cidade sem problemas. Existe um grande intercâmbio entre os clubes que aqui participam, e a nossa finalidade é abrir espaço com os grandes clubes brasileiros que disputam a Taça, para poder mostrar o trabalho dos paraguaios”, conclui José.