Abandono da SC 160 preocupa moradores, prefeitos e empresários da região

A rodovia SC 160, que vai de São Carlos até Campo Erê, mais uma vez causa preocupação e indignação da comunidade regional.

Isso porque, sendo uma das principais vias de acesso a municípios que crescem cada vez mais economicamente dentro do estado de Santa Catarina, vem sendo seguidamente ignorada pelo Deinfra e pelo governo do estado como um todo.

Inúmeras solicitações já foram levadas até Florianópolis; audiências foram realizadas no oeste do estado; mas, até agora, nenhum resultado prático foi obtido. Tal descaso das autoridades estaduais vem preocupando prefeitos, empresários, moradores e demais lideranças regionais.

Curiosamente, um dos últimos trechos executados, inaugurado em 2009, é o que mais apresenta problemas, tanto de drenagem quanto de pavimentação. Água e terra sobre a via, mato crescendo nas laterais, sarjetas entupidas, buracos e saliências na pista são alguns dos principais problemas. Entre os municípios de Pinhalzinho a São Carlos, o asfalto está precário e as tubulações e galerias, em muitos pontos, ruindo, colocando a vida dos transeuntes em risco.

Apesar dos quatro municípios – Pinhalzinho, Saudades, Cunhataí e São Carlos – terem hoje uma população estimada (IBGE 2017) de 42.262 pessoas e um Produto Interno Bruto (PIB) de quase R$ 1,5 bilhões, gerando continuamente impostos ao governo do estado, este não vem cumprindo com seu papel institucional junto à sua população, deixando não só esta rodovia, mas muitas outras em total abandono.

Foram ouvidas a opinião de moradores, representantes de indústrias e associações de classe e também de autoridades e lideranças da região, que apontam o que precisa ser feito para que a SC 160 ofereça melhores condições de trafegabilidade e segurança para todos os usuários.

 

O que dizem os moradores

Arlindo e Sidila Weber são proprietários de um bar às margens da SC 160, bem em frente ao entroncamento do contorno construído e inaugurado no ano passado, que desvia o fluxo de veículos que passariam no centro de Cunhataí, ligando diretamente à comunidade da Bela Vista, sem a necessidade de passar pela cidade.

Neste local, a falta de um trevo põe em risco a vida de motoristas, principalmente aqueles que não conhecem muito a região. A própria equipe de jornalismo, na hora em que conversava com Arlindo e Sidila, pôde presenciar uma manobra perigosa, onde uma carreta, veículo pesado, levou um tempo considerável para fazer a conversão a fim de acessar o desvio, ficando por alguns segundos sobre a pista de rodagem que vem em sentido contrário.

A família Weber acredita que um trevo ou algo neste sentido traria mais segurança. “É complicado, pois há cada pouco tem freadas bruscas e ficamos preocupados. Muitos precisam entrar na contramão, porque não tem rótula, não tem nada, nem sinalização. Tem um tráfego intenso de carretas e caminhões, o movimento aumentou muito e isso torna este lugar muito perigoso, principalmente nos horários de pico”, comentam.

Na outra “ponta” do contorno, onde há o entroncamento do acesso, próximo à comunidade de Bela Vista, a preocupação é a mesma: a falta de um trevo e também de sinalização adequada.

O proprietário da Mecânica dos Irmãos Herbert, José Alípio Herbert, também relata situações de risco neste local. Um quebra-molas foi colocado, assim como tachões no centro da pista do acesso; porém, muitos motoristas, de forma imprudente, passam na contramão, para evitar a lombada. “O mais seguro seria fazer um trevo no local. O movimento aumentou muito nos últimos anos. Às vezes precisamos esperar para atravessar a rua. Os veículos passam em alta velocidade e, muitas vezes, nem respeitam a preferência”, relata.

O proprietário da Mecânica Tricolor, Jorge Luiz Müller, confirma o que narra o senhor José Alípio Herbert e acrescenta ainda que, no trecho da Bela Vista até Cunhataí, há falta de passadores de gado. “Seria algo muito necessário, pois às vezes você encontra mais de 30 vacas sobre o asfalto. Os produtores não têm culpa, pois eles precisam fazer isso, mas seria bastante necessário ter passadores. Como é um lugar de muito movimento e com curvas, os motoristas correm sérios riscos”, aduz.

 

ACISC e CDL apoiam causa

A Associação Comercial e Empresarial de Saudades e Cunhataí (ACISC) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), por meio de seus presidentes, Maciel Schneider e Agostinho Kothe, manifestaram posição favorável à revitalização e manutenção periódica da SC 160 e também de outras rodovias estaduais e federais da região que necessitam de melhorias.

“Observamos que os governos realizam obras e em alguns casos as empresas contratadas utilizam matérias de péssima qualidade para aumentar sua lucratividade, sem pensar nas consequências que isso pode causar à população. Falando da SC 160, entre Pinhalzinho, Saudades, Cunhataí e São Carlos, verifica-se que a manutenção periódica não é feita e quando, por ocasião, algo é feito, é mal feito. Precisamos mais comprometimento dos governantes em todas as esferas com os cidadãos, pois os governantes são os funcionários do povo”, concordam Maciel e Agostinho.

 

O que dizem os deputados estaduais da região

O Deputado Estadual Mauro De Nadal, que no ano passado, intermediou uma reunião entre prefeitos, vice-governador (hoje governador) Eduardo Pinha Moreira e secretário do Deinfra, manifestou-se preocupado com a situação da rodovia.

“A recuperação da SC 160, que cruza o estado de São Carlos a Campo Erê, é muito importante para a economia da região e para quem nela transita. Estamos em contato permanente com o Deinfra para buscar uma solução e viabilidade para as obras da rodovia. Na próxima quarta-feira, 27, às 10 horas teremos um novo encontro em Florianópolis, com a presença de prefeitos da região”, pontua De Nadal.

Também o Deputado Estadual Dirceu Dresch é enfático na urgência das melhorias, não só desta, mas de outras rodovias estaduais. “A situação desta rodovia não é uma exceção. O abandono das rodovias estaduais é uma realidade em todas as regiões do estado. Não é falta de recurso, é falta de prioridade. Um governo que coloca meio bilhão de reais em uma ponte na capital, que não sabe se um dia será útil, não pode alegar falta de recurso. Temos um governo que se move na base da pressão, então essa reunião é superimportante, unindo setores para exigir do governo a recuperação da rodovia”, acredita Dresch.

 

O que dizem os prefeitos

Rudi Sander, prefeito de São Carlos

O gestor são-carlense Rudi Miguel Sander, que é também presidente Amosc, acredita que foi uma conquista importante a concretização desta obra, que era uma promessa de muitos políticos. Mas a forma como foi construída, ou seja, o projeto de execução, deveria ter sido diferente.

“O nosso problema hoje é a falta do estado, que está sendo omisso conosco, principalmente no trecho de São Carlos a Saudades, que passa também por Cunhataí, onde o governo do estado não tem feito a manutenção necessária, tem faltado com as roçadas que devem ser constantes e também, como o nosso asfalto foi feito em lotes, gostaria de citar o exemplo do trecho da Linha Moraes até a Linha São João, onde não há sinalização”, comenta Sander.

Enfático, o chefe do executivo frisa que o governo do estado está virando as costas para os municípios da região, deixando de lado as manutenções necessárias, o que já provocou inúmeros acidentes, inclusive com vítimas fatais. “Entendemos que o governo deve estar mais presente; temos regionais, temos secretários, inclusive, morador do nosso município que responde pela pasta do Deinfra e acreditamos que deve ser feito algo a mais, não só pelo município de São Carlos, mas por toda a região, trazendo as melhorias que se fazem necessárias”, completa.

Luciano Franz, prefeito de Cunhataí

O prefeito do município de Cunhataí, Luciano Franz, também é uníssono quanto aos pleitos mais urgentes em relação à SC 160. De acordo com ele, são necessárias a limpeza das margens e canaletas, bem como roçadas, a fim de que melhore a visibilidade dos motoristas e também evitando o acúmulo de água e terra sobre a pista.

Inclusive, nos últimos dias, o município se viu forçado a fazer um serviço de tapa-buracos na rodovia, preocupado com a segurança dos usuários. “Estamos desempenhando algumas funções que não nos caberiam. Por exemplo, fizemos a aquisição de 100 sacos de asfalto e executamos este serviço de tapa-buracos”, comenta Franz.

Para o prefeito cunhataiense, houve uma má-gestão na própria execução da obra, com a falta de fiscalização do Deinfra; como exemplo, cita o acesso à cidade. “Tudo isso acaba impossibilitando que novas empresas se instalem aqui, justamente por causa desta dificuldade com a logística. Entendemos que cada ente precisa fazer bem o seu papel, arrecadando os recursos e de fato aplicando onde é necessário”, frisa.

Daniel Kothe, prefeito de Saudades

O administrador saudadense, Daniel Kothe, também mostra indignação, assim como seus colegas prefeitos, com as condições da SC 160. “Todos os problemas na via, como a falta de visibilidade, drenagem pluvial, água sobre a pista e buracos são consequência da falta de manutenção por parte do estado. Já aconteceram vários acidentes e tememos que mais aconteçam”, resume.

Além disso, no trecho entre Pinhalzinho e Saudades, as duas pontes situadas na Linha Volta Grande têm sérios problemas nas cabeceiras, necessitado de manutenção urgente; caso contrário, este trecho poderá ser interditado num futuro não muito distante. Entre Cunhataí e Saudades, os problemas principais estão na Linha Taipas, onde galerias foram destruídas com as enchentes dos últimos anos e também houve desmoronamento de barreiras sobre a via.

“Num momento em que os municípios investem na infraestrutura, num momento em que as empresas investem fortemente aqui em Saudades, fazem a sua parte, nós, também, como governantes, precisamos cobrar a responsabilidade do estado para que este faça a sua parte. É quase incompreensível e não dá para admitir que o governo do estado fique com 75% do ICMS gerado aqui e não tenha sequer a capacidade e a condição de manter a SC 160 em condições mínimas de trafegabilidade. Já foram feitas várias audiências, participamos em vários debates só que até agora, nada aconteceu”, finaliza Kothe.

 

Reunião em Florianópolis na próxima segunda-feira

A Fiesc promoverá, na próxima segunda-feira (25), em Florianópolis, uma reunião para tratar sobre as condições precárias da BR 282, também no trecho que corta o oeste do estado catarinense.

Na oportunidade, os prefeitos Rudi Sander (São Carlos), Luciano Franz (Cunhataí), Daniel Kothe (Saudades) e Mário Afonso Woitexen (Pinhalzinho), além de outros prefeitos e autoridades da região, estarão cobrando novamente as melhorias na SC 160.